“Na correria”: algumas considerações sobre a agitação das crianças

A rotina das famílias se encontra cada vez mais corrida e atribulada de tarefas, com as crianças não seria diferente: escola, ballet, natação, aulas de inglês, compromissos sociais, enfim, uma série de atividades que mantêm os pequenos ocupados e “na correria”, expressão que tenho escutado bastante, em especial quando ouço uma pessoa perguntando para outra como ela está: “Estou na correria.
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Se por um lado, correr de um lado para outro pode significar algo positivo, isto é, que o indivíduo está se capacitando e desenvolvendo empreitadas importantes, por outro, muitas vezes, não temos tempo para parar, pensar, refletir e relaxar. Essa falta de tempo e espaço para subjetivar as experiências, o que fundamental para que o sujeito possa encontrar um lugar no mundo, produz reflexos no modo com as crianças se comportam, podendo, por vezes, ficarem agitadas, ansiosas e angustiadas por estarem, ao mesmo tempo, em vários lugares e em lugar algum, visto que não conseguem se encontrar e parecem entrar no piloto automático.
Assim, em alguns casos, a agitação das crianças pode estar ligada ao excesso de atividades nas quais estão inseridas. Cada criança tem um perfil e necessita de uma quantidade de tempo diferente das demais para descansar, brincar e pensar sobre tudo o que tem vivenciado. Logo, não há uma fórmula que se aplique para todas, é preciso que cada família observe de perto seus filhos e respeitem suas necessidades e anseios. Cabe ressaltar que não se trata de deixar o filho fazer o que quiser, sem limites e regras (que também são essenciais!), mas de escutar o que eles têm a dizer sobre suas rotinas e experiências.
Sem dúvida, é importante que as crianças pratiquem esportes, aprendam outras línguas e interajam. No entanto, elas também precisam de espaço para elaborar tudo o que estão vivendo, pois é isso as ajudará a descobrir seu lugar e o que de fato faz sentido para elas.

Paula Melgaço: empreendedora, sócia-fundadora da Clínica Base, graduada em Psicologia pela UFMG, Especialista em Relações Internacionais, Especialista em Psicanálise com Crianças e Adolescentes pela PUC-MG e Mestre em Psicologia. Referência da Clínica Base em projetos relacionados à adolescência, à tecnologia/mundo virtual e à orientação profissional.