Os desafios do brincar com as novas tecnologias

Na infância, o livre brincar em ambientes ricos de estímulos naturais favorece o fortalecimento da vontade das crianças, pois exige que elas tomem iniciativas e criem uma série de situações que mobilizam os recursos de sua vontade. Atualmente, os jogos digitais fazem parte do repertório lúdico de nossas crianças. O touch está presente na maioria dos novos jogos e é importante observar que dedicar o tempo da infância apenas aos jogos digitais não cria um ambiente rico de estímulos para o desenvolvimento completo da infância. Encontrar soluções no cotidiano para que as brincadeiras digitais sejam complementares e que dialoguem de forma harmônica com as outras linguagens é o nosso maior desafio como pais e educadores.

A ludicidade do ser humano também acompanha as mudanças culturais através dos tempos, pois o brincar como linguagem vem sendo expressado de diversas maneiras por nossas crianças ao longo das gerações. Se observarmos a evolução humana, veremos que as brincadeiras primitivas eram mais ricas em estímulos sensoriais. A comunicação era mais direta, face a face e as brincadeiras como, por exemplo, do “Ofício Mudo” faziam parte da infância e desenvolviam muito a observação.

A oralidade veio trazer para as brincadeiras as cantigas, ritmos, contos e todas as possibilidades da criança se expressar com o corpo através de movimentos e ritmos que desenvolvem os sentidos de forma ampla. Chegamos na linguagem escrita e com ela mais possibilidades de expressão por meio do brincar através de desenhos, amarelinhas riscadas no chão dentre vários outros registros lúdicos que ainda continuam presentes. Atualmente contamos com mais uma maravilhosa forma de linguagem: a digital. E assim percebemos que infinitas possibilidades e conexões se abrem para nossas crianças que nasceram nesse contexto lúdico.

Regular a brincadeira eletrônica é o nosso maior desafio pois ela traz mais comodidade aos pais e deixa as crianças em uma postura mais passiva pois o comando para executar algo vem do jogo ao invés de ter que criar por ela mesma uma decisão sobre o que brincar. Fazer combinados com a criança em relação ao tempo dedicado ao uso dos jogos eletrônicos é fundamental para que ela desenvolva também as outras linguagens e fortaleça sua vontade de tomar iniciativas e de conhecer e desenvolver todo o seu capital humano e criativo por meio do brincar.

A evolução humana continua e muitas outras formas de linguagem ainda estão por vir! Que possamos continuar dialogando com todas as novas tecnologias, de forma a completar no desenvolvimento de todas as habilidades que são vitais ao desenvolvimento humano de nossas crianças.

 

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Luciana Moreira é Educadora há 25 anos, Geógrafa, especialista em Educação Ambiental.
Brinquedista pela ABBri e idealizadora da Brinquedoteca Itinerante Colônia do Brincar

” Como educadora já valorizava o brincar como um importante recurso de ensino, mas a minha vocação para o brincar foi despertada ainda mais após o nascimento de minhas duas filhas.

A busca constante por favorecer o brincar na infância me levou a promover atividades recreativas em clubes e escolas.

Me tornei entusiasta do brincar e assim fui em busca de uma maior capacitação nessa área e como Brinquedista criei a Brinquedoteca Itinerante Colônia do Brincar.”