Educar sem exagerar: a medida certa nos estímulos e brincadeiras. (por Marise Alencar)

Muitas vezes, podemos correr o risco de exagerar na educação dos filhos. Exagerar nos estímulos, na alimentação, na proteção, nas atividades intelectuais e, até mesmo podemos exagerar no carinho. Alguns podem não concordar e dizer: uma criança jamais será prejudicada com excesso de coisa boa. Engana-se quem pensa assim.

As mais felizes experiências de educação, em várias partes do mundo, de diferentes culturas e condições sociais e econômicas, esbarram numa palavra mágica: “equilíbrio”.

Brincadeiras em Família

 

Esta é, sem a menor dúvida, a condição que mais pode favorecer uma boa educação.Equilíbrio traz serenidade. Uma pessoa equilibrada é uma pessoa madura e, geralmente, é mais feliz. Ao pensar na atividade que a criança mais gosta de fazer, que é brincar, muitas reflexões podem ser feitas para contribuir, também, no equilíbrio desta tão importante atividade infantil. Que espaços podem ser úteis para brincar? Que espaços criativos podem ser oferecidos às crianças?

Temos visto pais aflitos, querendo promover para os filhos, principalmente nos finais de semana, locais super legais, espaços multicoloridos que possam atrair e divertir as crianças.

Neste artigo, o objetivo é resgatar que, dentro da própria casa ou em espaços próximos a ela, podemos oferecer muito aos filhos. E o melhor, gastando apenas um pouco do nosso tempo e disposição e nada de dinheiro!

Vamos a algumas ideias para fazer em casa,  coisinhas simples que muito alegram a criança.

Brincadeiras entre pais e filhos no quartoBrincar no Quarto – O quarto de uma casa sempre oferece situações e ferramentas criativas para a família toda se divertir. Seja a cama que pode virar o famoso pula-pula, para os menores de 3 anos ou as almofadas e travesseiros para a velha farra da guerra de travesseiros, estar no quarto dos pais traz sempre boas recordações. Aproveitar este espaço da casa para contar histórias, brincar com as roupas da mãe ou do pai enquanto se arruma o armário, também promove boas conversas. Outra coisa que se pode fazer no quarto é ver os álbuns de fotos da família, aproveitando o aconchego do colchão e de uma coberta fofinha. Ver fotos, juntinhos, faz com que momentos que a família tenha vivido, antes da criança ter nascido, passem a fazer parte de sua história. É um repassar de fatos, memórias e vivências que cada novo membro que chega à família, pode passar a ter contato. E, cabe ao adulto, ter a paciência e um tempinho para contar aos menores o que ocorreu antes dele chegar.

 

Brincadeiras na cozinha

Brincadeiras na cozinha, um dos lugares preferidos das crianças

 

Brincar na Cozinha – Lugar preferido de 9 entre dez crianças. Colorido, cheiroso e, geralmente detentor de delicias nem sempre liberadas na hora que a boca pede. Criança sabe bem disso. Também é considerado por muitos como o lugar mais perigoso para os pequenos. Será mesmo? Cabem aqui algumas reflexões? Cozinha é perigosa em função do fogo, gás, pia, produtos? Sim, isso é fato. Mas o que deveríamos fazer neste local não seria, também, uma intensa atividade educativa quando estivermos com crianças em casa? Ensinar a guardar o que está limpo; organizar os alimentos nos potes; analisar quais frutas precisam ser consumidas por já estarem maduras; lavar as louças que foram usadas para a refeição; fazer um bolo para esperar a vovó para um café; e até mesmo arrumar a mesa com os pratos e talheres de acordo com o número de pessoas que vão jantar. A grande diferença entre a cozinha ser o espaço divertido e o espaço proibido, é a presença atenta de um adulto. Adulto capaz de explicar e aceitar as ajudas que a criança pode dar. É claro que uma atividade na cozinha, com crianças a partir de 4, 5 anos, torna-se mais agradável do que com as menores, mas, independente da idade, o papel do adulto deve sempre ter destaque para que tudo ocorra de forma natural e educativa.

 

Brincadeiras no banheiro com as crianças

Brincar no Banheiro – Hum… quem nunca viu uma criança se deliciar com a espuma produzida pelo sabonete ou shampoo no corpinho? É uma aventura! Encher uma bacia com água, na hora do banho, e deixar os bonecos, panelinhas e carrinhos boiarem à vontade, pode trazer alegria e relaxamento. Na estação mais quente, o verão, isso é ainda mais gostoso, já que mesmo a água esfriando, não se corre o risco de um resfriado. Muitas vezes é a parede azulejada que vira uma grande tela à vapor para desenhar ou até mesmo o vidro do box que recebe as iniciais do nome, corações e rabiscos bem criativos. Claro que, com supervisão do adulto, pois onde há água, por mais seguro que seja, estamos falando de crianças.

 

Brincar no Quintal ou Playground – Uma casa com quintal, um apartamento com área ou um prédio com playground são cada vez mais raros hoje em dia. Crianças que ainda possuem estes espaços privilegiados devem ser incentivadas a usá-los com muito cuidado e, principalmente, respeito, já que nem sempre são territórios individuais. Brincar de casinha, de banho de mangueira, de futebol, de boneca, de carrinho, ou seja, quase tudo pode ser feito nestes espaços. Os cuidados, por parte dos adultos, devem prevalecer: o barulho produzido pelos pequenos deve ser monitorado, o cuidado com o espaço, as plantas e os brinquedos que por ventura ali estiverem devem ser ensinados e, claro, o zelo pela segurança dos brincalhões que podem se exceder diante da euforia.

Brincadeiras no quinta ou playground

 

Brincar na praça perto de casa– Morar perto de uma pracinha, por mais simples que ela seja, é um privilégio. Em algumas cidades têm-se notícias de que espaços antes, povoados por um público que inibia a ida de famílias e de suas crianças, passaram a ser “ocupados” pela população para suas caminhadas, brincadeiras ao ar livre e muita criança transitando. Este é o quadro natural: espaços públicos, como as praças de pequenas ou grandes cidades, são para o lazer de sua população. Levar a criança, desde bem pequena, ainda no colo, para identificar que ali é um lugar para ser cuidado e aproveitado, é também, um exercício de cidadania. Levar brinquedos que podem ser compartilhados com outras crianças é outro belo exercício de altruísmo. Bola, peteca, patinete, velotrol, bicicleta e corda são sempre boas pedidas. Entender que o que é público precisa ser cuidado por cada um que o utiliza, precisa ser aprendido desde cedo. Outras atividades podem ser feitas em praças como os piqueniques, uma roda de violão, os jogos de tabuleiro como dama, dominó, vareta, além, é claro, de pular amarelinha, elástico ou simplesmente correr livre, para sentir o vento e o sol. Para quem tem um cãozinho, levá-lo para passear ainda abre o espaço para mostrar às crianças,  de como se portar quando o bichinho fizer suas necessidades, levando o saco plástico para a coleta preservando os demais de um acidente desnecessário. Muitos lugares e espaços, pequenos ou grandes, podem ser fontes inspiradoras de brincadeiras. A sala, a garagem, o corredor que une os quartos, podem e devem ser explorados. Desenhar, pintar, brincar de massinha, ver um desenho animado ou um filme bem legal ficam bem mais divertidos quando feitos com alguém que amamos está por perto. Ficar e brincar em casa não é castigo… quem aprende a gostar do próprio lar, torna-se mais grato e cuidadoso com seu entorno. Não deixemos que mais um perigoso desequilíbrio passe a tomar conta de nossos hábitos: querer oferecer sempre mais e mais novidades para o simples e natural ato de brincar.

Fica assim a dica: espaços para brincar não faltam, torná-los criativos é questão de disposição.

 

Marise Nancy de AlencarMarise Nancy de Alencar
Pedagoga, Especialista em Educação Infantil e Alfabetização, Mestre em Educação Tecnológica, Coordenadora Pedagógica.