Limite: uma forma de amor (por Lívia Galdino)

O pensamento da criança tem um caráter mágico: ela acredita que os seus desejos podem se transformar em realidade. Nos primeiros anos de sua vida, sua  atividade mental se restrige à busca em satisfazer os desejos do seu corpo, que são físicos (fome, sono) e psíquicos (necessidade de ser cuidado, angústia de separação). Há uma busca incessante pelo prazer.

A família é a estrutura ideal para formar os limites

 

Com o decorrer do tempo, a criança, estimulada especialmente por seus pais, passa a desejar um envolvimento maior com o mundo exterior. Suas atividades mentais precisam progredir até formas mais elaboradas de pensamento,  raciocínio, lógica e  abstração, que lhe proporcionarão condições para que sua integração com o mundo evolua. Mesmo que, durante este processo de evolução, sempre exista na criança a vontade de permanecer na busca por seus prazeres primários, ela também anseia por progresso. Ela quer crescer, andar, falar etc.

Para que haja essa evolução a criança conta com mediadores especiais: os seus pais.

São eles quem devem educá-la para ter  uma visão coerente da vida e da realidade, fazendo com que ela seja então capaz de abrir mão dessa busca pela satisfação do prazer em prol da sua relação com o mundo.

Os pais auxiliam nessa conversão com a sua arma mais poderosa: o amor.

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Entre pais e irmãos, a criança aprende o bem e a verdade

 

Muitos pais se questionam se o “não”, o limite, irá diminuir o amor ou afastar os filhos, ou se ser permissivo e ceder aos desejos e vontades da criança irá compensar ausências e carências. Ao contrário!

Os ensinamentos dos pais têm efeito justamente porque eles são os bens mais preciosos de uma criança e ela entende o limite como proteção, atenção, cuidado. E, para retribuir e  manter o amor dos pais, ela renuncia aos seus caprichos (mesmo ficando um pouco emburrada, chateada ou triste por um tempo). No fundo, ela sempre sabe que eles querem o seu bem!

A criança não adquire controle sobre os seus impulsos a não ser que os pais lhe façam essa exigência. Quando os pais põe limite, através de broncas e repreensões, a criança teme por perder o amor deles. São os pais então quem, através de seus exemplos, irão proporcionar os incentivos para que ela controle os seus desejos e temperamento. E o que ela ganha com isso? A garantia de ser querida e amada.

Limite é uma forma de amor, e é esta busca pelo amor de seus pais que irá ajudar a criança a adquirir autocontrole, a aprender a distinguir o certo e o errado, o bom e o mau.

Portanto, os pais impõem limites para mostrar aos filhos que os protegem e querem o seu bem. Dessa forma estão os instruindo e auxiliando a lidar com a realidade, com as frustrações e alegrias da vida, preparando-os para o futuro, para que possam construir relações pautadas pelo afeto e pelo respeito, para serem cidadãos do bem, conscientes das suas responsabilidades, deveres e direitos.

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Dizer não é ensinar

 

Lívia Galdino

Psicóloga

Especialista em psicanálise com crianças e adolescentes