O que o Brasil pode esperar dos nossos filhos?
Como brasileiros, adultos, pais e mães que somos, não é difícil nos flagrarmos com reflexões sobre o nosso futuro e o de nossos filhos, quando o assunto é o nosso país. Pessimismo? Desconfiança? Temor do que eles terão que enfrentar? Certeza de que as coisas vão melhorar? Boa vontade em educar para que tenhamos um futuro melhor? Esperança? Expectativas? Otimismo?
Minha infância está situada no final da ditadura militar que vigorou no Brasil por vinte anos. Recordo de brincar na rua, de subir na laje de casa sem a minha mãe saber, de ler enciclopédias, já que eram os únicos livros disponíveis em casa. Lembro-me de ter assistido pouco, o que passava na televisão, já que a antena que captava o sinal quase não funcionava; também recordo dos meus pais trabalhando em sua mercearia, incansáveis e defendendo, o que para eles, era o mais importante: ter um nome limpo e honrado.
Na escola pública onde estudei, no final da década de 1970, lembro de ter o uniforme inspecionado todos os dias pela disciplinária, na tentativa de encontrar algum deslize “fora da lei”. Recordo que não viajava nas férias para praia, pois isso não fazia parte da realidade dos meus pais e, quando passeava, era nas casas de parentes ou na casa da sogra da minha irmã mais velha, no interior, lá em Estrela do Indaiá … enfim, recordações de uma infância feliz e normal.
Hoje, como pedagoga e mãe de uma jovem, faço dessas lembranças a fonte para imaginar como as crianças de hoje vão se lembrar de sua infância quando adultas. E mais: que mundo elas, daqui a 30 anos, vão habitar? Nosso Brasil terá uma população nutrida por quais vivências? Serão guardiãs de quais lembranças?
Uma grande parte de nossas crianças hoje, no Brasil, brincam, assistem TV, correm, vão a escola, desfrutam a convivência de uma família, têm seus amiguinhos, escutam histórias e músicas, jogam nos seus tablets, fazem suas maravilhosas perguntas, dão birras, choram, têm seus personagens preferidos … são crianças! Crianças que sofrem as influências do mundo da política, da economia, da cultura e da sociedade. Crianças que têm recebido de nós, da mídia e de todos que a rodeiam, muitos estímulos positivos e negativos.
Desse contexto surgirão os adultos do futuro. Como serão estas pessoas? O que poderão oferecer ao Brasil? Com que valores vão contribuir para que o país evolua? Estarão bem preparados? Poderão oferecer sua força, talento e participação? Geralmente, nos perguntamos o que o Brasil pode e poderá nos oferecer. Mas há outra pergunta tão importante quanto esta: o que o Brasil pode esperar de nós? Esta pergunta provoca em mim um sacudimento, uma tomada de consciência do papel que cabe a cada um no Brasil de hoje e no do futuro.
Parece clichê, mas o que se planta, geralmente se colhe. Se em nossas crianças estivermos plantando, com palavras e práticas, gentileza, respeito, boa vontade, bondade, cidadania, bom senso, disciplina, tolerância, tato, responsabilidade e muitos outros valores, certamente herdaremos uma geração melhor e mais bem preparada. Não há dúvidas de que o Brasil vai precisar cada vez mais de pessoas assim.
Nossa responsabilidade na condução da educação da geração atual é enorme. O investimento a ser feito é nosso, como os mais velhos que precisam nortear a formação dos mais novos. Fico pensando que, quando eu estiver velhinha e, olhar para trás, quero ter a tranquilidade de consultar a minha consciência e dizer para mim mesma: ajudei a plantar sementes e estou vendo um belo jardim!
Marise Nancy de Alencar
Pedagoga, Especialista em Educação Infantil e Alfabetização, Mestre em Educação Tecnológica, Coordenadora Pedagógica.