A preocupação das crianças com o futuro (por Paula Melgaço)

No começo da semana vi uma reportagem num telejornal que me chamou bastante atenção. O chamado introduzia a preocupação das crianças com seu futuro o que as motiva, inclusive, a fazer um curso de capacitação nas férias. O tema específico da matéria era programação, mercado com inegável destaque haja vista a importância que a tecnologia tem em nossas vidas.

 

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Exagerar na dose pode causar estresse, até nas férias!

O curso, que de fato parece ser bem interessante, ensina as crianças conhecimentos básicos sobre programação. Primeiro a criança passa por uma fase de ambientação e, em seguida, aprende como criar jogos básicos, aplicativos e outras ferramentas. O argumento utilizado para incentivar os pais a matricular os filhos na instituição durante o recesso escolar é de que Bill Gates e Steve Jobs aprenderam a programar bem cedo o que contribuiu para o desenvolvimento de suas criações geniais: o Windows e a Apple.

Como psicóloga, especialista no atendimento de crianças, não vejo problema algum num curso de programação para os pequenos. Contudo, coloco duas questões: seriam as férias o momento mais adequado para isso? Até que ponto é saudável que uma criança se preocupe com seu futuro profissional?

 

Para responder à primeira pergunta, recorro a um texto publicado no site do Hospital Albert Einstein sobre o estresse infantil. Dentre inúmeros fatores estressores citados, como doença, sensação de rejeição e medo, está a exaustão e o excesso de responsabilidade. Assim como nós adultos, as crianças precisam de pausas, de férias. Mesmo que o curso de programação seja uma diversão para ela, é importante brincar ao ar livre, conhecer novos lugares, explorar e criar novos jogos e atividades, pois os momentos de lazer e de brincadeira também são fundamentais para seu desenvolvimento tanto emocional como em termos de habilidades sociais. Dito isso, retomo a pergunta: as férias seriam o melhor momento para um curso? Claro que a resposta não será a mesma para todas as crianças, portanto, cabe a cada família avaliar o melhor momento para seu filho.

 

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O brincar simples é o mais completo e seguro no desenvolvimento infantil.

Sobre a preocupação das crianças com seu futuro profissional é necessário que elas sejam orientadas e estimulas de acordo com sua idade, pois antecipar obrigações e apreensões pode gerar ansiedade e estresse. É preciso ter em mente sempre que, acima de tudo, as crianças precisam brincar para se descobrir e conhecer o mundo a sua volta. Por isso, não perca a oportunidade de brincar, criar e inventar com elas nas férias!

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Paula Melgaço

Paula Melgaço

sócia-fundadora da Clínica Base, graduada em Psicologia pela UFMG

Especialista em Relações Internacionais

Especialista em Psicanálise com Crianças e Adolescentes pela PUC-MG

Mestranda em Psicologia na PUC-MG.

Referência da Clínica Base em projetos relacionados à adolescência e à tecnologia/mundo virtual. (www.clinicabase.com)