Todo herói tem uma identidade secreta – o pai (por Marina Otoni)
Recentemente li a frase que dá título a esse texto estampada em um símbolo do super-homem na faixada de uma clínica de reprodução assistida, o que me levou a refletir sobre as diversas configurações familiares com que nos deparamos na atualidade, dentre elas, as famílias formadas apenas por uma mulher solteira, que, sozinha, cuida de seu rebento, fruto do desejo de ser mãe e de um milagre da ciência. Mas e o pai? Será que podemos prescindir dele na criação de um filho?
Será que podemos prescindir dele na criação de um filho?
A função paterna é um tema debatido por profissionais de diferentes áreas e que interessa principalmente aos psicanalistas. Para a psicanálise o pai é aquele que interdita a relação da mãe com a criança mostrando-lhe que a mãe deseja algo para além de seu filho, o que é imprescindível para que a criança se diferencie dela e a perceba como uma pessoa independente, e não como uma parte do seu próprio corpo.
Essa separação que o pai promove entre a mãe e o bebê é fundamental, não só para que a criança se localize como um sujeito e não como um objeto do desejo caprichoso da mãe, mas também para que ela se identifique com o pai como aquele que tem algo que a mãe deseja, adotando-o, por isso, como uma referência, alguém que pode lhe ensinar sobre a vida.
Mas essa identificação da criança com o pai só vai se sustentar ao longo da vida se ele for capaz de se fazer amado, respeitado, e admirado no contexto familiar, o que não depende só da sua atitude, mas também, da atitude da mãe, que vai através da sua fala e das suas ações, legitimá-lo como uma autoridade a ser respeitada.
Para isso o pai não precisa estar presente, nem ser de “carne e osso”, basta que ele exista no desejo dessa mulher, ou que alguém, que não precisa ser o pai biológico, ocupe esse lugar. Em uma época como a que estamos vivendo – em que é possível tornar-se mãe por um milagre da ciência – saber que é possível que o pai esteja “presente” e faça a sua função mesmo estando, de fato, ausente, representa um grande alívio, pois, como a psicanálise revela, não podemos prescindir dele.
Psicóloga na Clínica Base